Ásia: uma saída de curto-prazo para a crise?

05/03/2009 0 Por Rodrigo Cintra
A crise econômico-financeira ainda não mostrou sua real dimensão no Brasil e ainda há um pouco de esperança que ela afete menos o país do que tem afetado o resto do mundo. No entanto, ao acompanhar o que ocorre nas principais economias mundiais, o cenário que surge exige cuidado e, sobretudo, a necessidade de se preparar para momentos mais turbulentos para o comércio mundial.
Ainda não se sabe ao certo qual será o perfil final que as atuais tendências apresentarão: os cenários vão de recessão à diminuição acentuada do ritmo de crescimento da economia mundial. Entretanto, as empresas e governos começam a tomar uma série de medidas destinadas a antecipar possíveis impactos negativos, o que certamente modifica as estratégias adotadas por cada um.
No caso dos EUA, centro da crise e um dos mais importantes atores da economia internacional, as projeções indicadas pelo Federal Reserve (Fed) mostram um cenário bastante temeroso para 2009: a economia dos EUA deverá encolher algo entre 0,5% e 1,3%. Parte desta queda será resultado da diminuição da exportação que, por sua vez, resulta de uma queda média na atividade econômica mundial.
Para dar um exemplo, o setor agrícola deverá exportar 20 bilhões de dólares a menos em 2009, quando comparado com os resultados alcançados em 2008, totalizando uma exportação de 95,5 bilhões de dólares. Por outro lado, espera-se que o crescimento chinês oscile entre 5% e 5,5% em 2009, valor relativamente baixo se comparado com o crescimento que o país vinha mantendo desde o início da década de 1990.
Ainda assim, no contexto da crise, esse crescimento pode ser animador, ainda mais se analisado conjuntamente ao crescimento de 1,8% esperado para o continente asiático. Além da China, Índia e Indonésia surgem como pivôs para a manutenção de um quadro positivo de crescimento na região. Desta forma, é possível perceber que esta é uma região que tenderá a ganhar destaque nas estratégias comerciais de 2009, que poderão tentar ocupar o espaço de crescimento.
No entanto, ao mesmo tempo em que surge como um possível espaço de atuação, espera-se também um maior fechamento da região para o resto do comércio mundial. Isto ocorrerá em função da grande pressão por vendas na região. Duas devem ser as frentes de atuação dos países asiáticos para evitar o “escoamento” dos produtos encalhados mundo afora: (1) manutenção e, por vezes, aumento nos subsídios oferecidos principalmente para o setor agrícola e (2) surgimento de barreiras comerciais de natureza tarifárias e, sobretudo, não tarifárias (técnicas, sanitárias, fito-sanitárias, ambientais e trabalhistas).
Diante deste cenário, a região asiática surge como uma alternativa de curto-prazo para que as empresas possam tentar escoar parte de sua produção, mas a estratégia deverá ser muito mais focada em parcerias locais, capazes de diminuir o impacto das barreiras. Exportações diretas dificilmente serão suficientes para compensar o investimento da abertura dos mercados num momento em que a instabilidade político-comercial deve prevalecer.
Publicado originalmente em FinancialWeb
http://www.financialweb.com.br/blogs/blog.asp?cod=98