Inação européia e risco de aprofundamento da crise

19/03/2009 0 Por Rodrigo Cintra
A atual crise econômico-financeira já mostrou muito de seus impactos e indica um futuro bastante desanimador. Muito de suas causas já foram identificadas e vários planos para que haja uma tentativa de diminuição de seus impactos negativos já foram desenhados. A grande questão é se todos os governos estão efetivamente preparados para atuar com a profundidade e a envergadura necessária. Aparentemente não.
Enquanto Barack Obama tem se esforçado para aprovar planos e recursos que buscam reestruturar e/ou redinamizar a economia norte-americana, outros países vivem um momento de vácuo político. Países como o Brasil, por exemplo, preferem defender mais discursos retóricos de responsabilidades pela crise – tanto em termos de culpa, quanto de condições de solucionar –, do que propriamente agir; algo esperado de uma economia que tem mais a perder com a crise do que a contribuir com sua solução. No entanto, o mais grave de tudo isso é quando importantes economias mundiais também se perdem em discursos retóricos, como tem acontecido com a Europa.
O Banco Central europeu, ao contrário do que tem feito o Federal Reserve, tem sido lento e pouco ativo no encaminhamento de planos para fazer com esta crise tenha uma duração menor ou um impacto menos perene na economia do continente. A política fiscal européia é, no mínimo, pífia para efetivamente conseguir tratar da crise e nada indica que haverá um espaço para que isso seja alterado no curto-prazo. Atualmente há uma convergência monetária minimamente sólida no âmbito da integração européia, porém em termos de política fiscal há pouca articulação entre os vários membros da União Européia, criando um vácuo na capacidade de articulação de algumas das principais medidas que poderiam encaminhar ações para diminuir a crise. Por enquanto a crise é mais percebida nos Estados Unidos do que na Europa em função da solidez do aparato do Estado de bem-estar social que prevalece na maior parte da Europa do Euro.
Os polpudos seguros-desempregos, juntamente com a base de saúde pública oferecida aos europeus faz com que a crise não se mostre tão forte no cotidiano das sociedades. A questão é que os Estados europeus não serão capazes de manter essa política por muito tempo, ligando uma bomba-relógio que poderá ser o estopim de uma segunda e ainda mais profunda fase da atual crise. Os Estados europeus estão se endividando cada vez mais para sustentar sua rede de proteção social, o que os torna cada vez mais pesados sobre a economia.
Ao mesmo tempo, num momento como este é pouco provável que haja clima político suficiente para mudar a lógica atual, diminuindo os serviços prestados pelo Estado. Desta forma, a Europa poderá mostrar efetivamente o tamanho da sua inação atual alguns meses à frente de hoje, justamente quando poderiam surgir os primeiros sinais de uma virada positiva para a economia mundial.
Certamente os Estados Unidos são talvez aqueles com maior potencial para estimular a retomada do crescimento econômico, porém nem todo o esforço que puderem fazer será suficiente caso a União Européia continue aprofundando elementos que dificultarão ainda mais a retomada do dinamismo econômico.
Publicado originalmente em FinancialWeb
http://www.financialweb.com.br/blogs/blog.asp?cod=98