G20: um passo adiante ou a legitimação do mesmo?
01/04/2009No dia 2 de abril último, representantes das 20 maiores potências econômicas mundiais se reuniram em Londres para debater a atual crise econômico-financeira, bem como as possíveis ações a serem seguidas para acabar com a mesma. Esta reunião significa uma mudança qualitativa no sistema internacional, que passará a ter suas questões encaminhadas por grandes diálogos, ou é apenas sinal de um mundo que está tão perdido quanto esteve no final da Guerra Fria?
Não se pode negar a incrível capacidade de articulação econômica que se alcançou na reunião, especialmente diante das aparentemente irreconciliáveis posições que os principais atores anunciavam antes do encontro. Esse foi especialmente o caso dos liberalizantes Estados Unidos e Reino Unido contra os regulamentadores Alemanha e França.
O acordo fechado em US$ 1,1 trilhão em recursos direcionados para os organismos multilaterais podem ser considerado um grande sucesso. No entanto, este sucesso não deve impressionar demais a ponto de ocultar outras dinâmicas igualmente importantes com relação ao que ocorreu. Esta grande articulação não foi capaz, ao menos por enquanto, de alterar a realidade internacional.
As agendas que cada um dos participantes levou foram tão variadas e dispersas que pouca convergência tinham, a não ser em termos retóricos pela necessidade de se resolver a crise no menor tempo possível. No mais, o que se viu foi o embate dos grandes atores econômicos e políticos do sistema internacional discutindo as principais saídas. Os países mais periféricos ganharam muito espaço em aparição pública e puderam se posicionar frente à crise mundial, porém pouco retorno conseguiram.
Ainda que muito se fale, a verdade é que a reunião do G20 não trouxe grandes transformações estruturais. O sistema internacional continua fundamentado nas mesmas dinâmicas de antes, à diferença de que agora há uma preocupação maior em se alcançar uma maior coordenação entre as diversas ações dos Estados. Governança, algo que parecia ser o grande objetivo da reunião, não se impôs e a questão do encaminhamento das ações em uma mesma direção tornou-se o grande e, quando não, único objetivo.
Ao se olhar os números que resultam da reunião, tem-se:
– US$ 750 bilhões: recapitalização do FMI;
– US$ 250 bilhões: injetados no comércio mundial em 2009 e 2010; e
– US$ 6 bilhões: reconversão do ouro em apoio para os países pobres.
Estes números mostram que, em essência, o grande (ainda que insuficiente) esforço financeiro para tratar da crise se resume a reforçar as antigas estruturas mundiais. Idéias como o livre-mercado e como a necessidade de expansão do crédito como forma de estimular o crescimento econômico continuam tão válidas quanto antes. Ninguém está aqui a se perguntar se não é chegada a hora de uma mudança mais profunda, ao contrário, a questão é como retomar a condição pré-crise o quanto antes.
Neste sentido, convem se perguntar o porquê da reunião ser do G20 e não do G7, como ocorria antes. Deixo duas hipóteses para que se mantenha aberta a discussão.
Hipótese 1
Efetivamente os países do G7, que tinham uma importância decisória em qualquer questão internacional, não mais conseguem encaminhar as questões mundiais e têm que ampliar a quantidade de países envolvidos, como pôde ser visto no caso da reunião do G20, em Londres.
Hipótese 2
A questão da ampliação das decisões do G7 para o G20 está mais ligada a uma questão de legitimidade do que propriamente de necessidade em termos de capacidade de implementação de uma agenda. Em grande medida a questão está ligada à necessidade de mostrar aos diversos atores não-estatais a capacidade dos poderes centrais em forjar cenários de coordenação com os mais variados atores.
Publicado originalmente em Revista Autor
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