O uso do FMI pelo G-20: mais do mesmo?

08/04/2009 0 Por Rodrigo Cintra

No começo do mês as principais economias do mundo se uniram em Londres para discutir ações conjuntas para superar a atual crise econômico-financeira, encontro conhecido como G-20. Em termos gerais, as partes envolvidas concordaram em disponibilizar US$ 1,1 trilhão para a economia global.

O valor é impressionante e causou euforia nos mercados mundiais. As bolsas de valores responderam positivamente e um discurso mais unido começou a ganhar destaque. Ao menos aparentemente, diferentes interesses conseguiram convergir num plano comum, capaz de orientar os novos rumos da economia mundial.

A questão é que o que foi combinado não sustenta uma análise mais profunda da realidade do US$ 1,1 trilhão. Ao se analisar de perto os recursos e suas fontes, percebe-se que parte não é recurso novo e outra parte sequer recurso real será.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) surgiu como o maior “ganhador” da reunião do G20. De um lado surgiu como o ganhador de US$ 500 bilhões e, ao mesmo tempo, foi tirada de cena qualquer discussão mais séria ou mesmo compromisso futuro de discutir uma reforma na instituição, tornando-a mais ágil e adequada à atual realidade econômica mundial.

Porém, dos US$ 500 bilhões prometidos, apenas US$ 200 bilhões apareceram, provenientes da União Européia e do Japão. Os demais US$ 300 bilhões não têm fontes predeterminadas. Até onde se sabe, Estados Unidos prometem US$ 100 bilhões e China mais US$ 40 bilhões. Mesmo que estes dois cumpram com promessas ainda não oficiais, a conta não fecha. O máximo que se teria seriam US$ 340 bilhões.

Ainda no âmbito do FMI, o uso dos recursos também se mostra problemático. Dos US$ 500 bilhões, US$ 250 bilhões devem ser disponibilizados pelo Fundo em termos de Direitos Especiais de Saques (DES). Assim, essa verba não será direcionada aos países mais pobres, que precisam de recursos para manterem suas economias funcionando. Ao contrário, foi decidido que os DES seriam destinados aos membros do FMI, na mesma proporção de seus votos (ou quotas). Deve-se destacar que, desta forma, 44% dos recursos irão para os países mais ricos. Os países pobres não conseguirão mais do que US$ 90 bilhões.

Diante deste cenário, fica a dúvida em torno da capacidade que a reunião do G-20 terá em efetivamente encaminhar soluções para a crise. Seria apenas mais discursos vazios procurando ganhar tempo, ou efetivamente a atuação do G-20 com relação ao FMI será apenas uma forma de confirmar um pouco mais do mesmo?

 

Publicado originalmente em FinancialWeb

http://www.financialweb.com.br/blogs/blog.asp?cod=98