A inovação e a dinâmica da política internacional

09/09/2009 0 Por Rodrigo Cintra

Inovação é um conceito amplo e que envolve várias dimensões (tanto em termos de criação, quanto de melhoria). No entanto, em termos mais gerais, a inovação é mais facilmente “vista” em aparelhos eletro-eletrônicos ou em produtos “desconhecidos” e que parecem atender a uma demanda que até então nem mesmo sabíamos que tínhamos.

Neste sentido, o país que mais se destaca na fabricação de produtos tidos como inovadores é a China. É difícil encontrar um produto novo que não tenha sido feito na China, ou ao menos, finalizado seu processo produtivo neste país. A conclusão lógica que podemos chegar é que a China é um país inovador. Isso é verdadeiro? Se for, quais condições fazem com que a China tenha essa enorme capacidade de criação?

Um mergulho mais profundo na estrutura chinesa cria um paradoxo na análise da criatividade do país. Internamente a China não parece criativa, mas apenas uma copiadora de produtos e idéias. Uma visão próxima dos sistemas legal, empresarial, político, educacional e cultural chinês mostra que a população do país não está imersa no que é conhecido no Ocidente como um espaço de estímulo ao empreendedorismo e à inovação.

Em grande medida o que a China oferece atualmente não é a inovação em si, mas sim a expressão da inovação, ou seja, o produto final. Isso ocorre sobretudo em função dos custos de produção já que, além de uma mão-de-obra incrivelmente barata em termos mundiais, o governo chinês oferece uma quantidade enorme de subsídios, que ajudam a baratear ainda mais o custo d produção.

Mas a questão continua: se a China, mesmo produzindo a maior parte dos produtos que hoje identificamos como inovações, não apresenta as condições empresariais para seu desenvolvimento, como pode ser a responsável por estas produções? Ou, em termos mais específicos, de onde vêm as inovações?

Uma resposta precisa a esta pergunta é algo extremamente difícil de sustentar. Por outro lado, podemos procurar a resposta de forma indireta. Se ignorarmos o Made in e nos focarmos nas marcas, termos uma visão diferente da realidade inovativa. Claro que, para tanto, teremos que ignorar as marcas piratas, que apenas copiam os produtos de marcas consolidadas.

Ao fazermos essa filtragem, logo perceberemos que a maior parte das marcas são norte-americanas e européias. Marcas como Apple, IBM, Motorola, Pfizer… estão por trás de grandes inovações, do lançamento de produtos com mais funções ou absolutamente novos em todos os sentidos. Elas seriam as verdadeiras inovadoras?

Caso a resposta seja afirmativa, significa que acreditamos que a economia já não mais pode ser entendida da forma como nossos pais a entenderam. Criação, marketing e produção passam a ser atividades independentes. Na lógica da administração empresarial, tal sistema já está em operação e os diversos setores já estão integrados. O desafio agora é como as estruturas jurídicas e políticas irão responder a isto.

Quem defenderá quem? Quem produz o que? Uma possível barreira comercial contra o Ipod deverá ser combatida pelo país-fabricante China ou pelo país-detentor-da-marca Estados Unidos? Podemos colocar ainda aqui também o país-distribuidor.

Assim, a questão da inovação ultrapassa a idéia de criação para cada vez mais se tornar um problema político.

 

Publicado originalmente em: Revista Mundo InNova – setembro de 2009

http://www.mundoinnova.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=181:a-inovacao-e-a-dinamica-da-politica-internacional&catid=187:setembro