O caso dos têxteis chineses

29/09/2005 0 Por Rodrigo Cintra

A invasão de produtos chineses no mercado mundial tem prejudicado diversos países, que agora ameaçam impor barreiras protecionistas caso o volume de exportações não se modifique. Esse é o caso do Brasil, que deve regulamentar essa semana a imposição de salvaguardas para os produtos chineses que ameaçam a indústria nacional.

Em reunião entre os membros da Camex e Lula no mês passado, ficou decidido que o presidente assinaria dois decretos, um regulamentando as salva-guardas para produtos em geral (com duração até 2013) e outro exclusivo para têxteis (com duração até 2008).
Os possíveis impactos desse contencioso podem ser mais graves do que uma simples batalha comercial. A ameaça de impor barreiras não vem apenas do Brasil, sendo vista também nos EUA e Europa. A China, por sua vez, rebate com o endurecimento de sua posição para a liberalização dos produtos agrícolas, principalmente nos fóruns multilaterais de comércio, como na OMC.
Caso a China confirme esse posicionamento, as negociações do G-20 serão bastante comprometidas. Para o Brasil, líder do bloco, esta retaliação enfraqueceria todo o esforço diplomático que tem sido aplicado na Rodada Doha com bastante sucesso.
Porém o ponto mais sensível das relações comerciais entre China e Brasil está no fornecimento de soja, hoje a principal commodity de exportação do agronegócio brasileiro. A relação de dependência entre os dois países no que concerne à compra e venda de soja permite que a China tenha em suas importações uma moeda de troca para negociações comerciais, econômicas e políticas. De todo o volume de soja exportado pelo Brasil, 30 por cento têm a China como destino.
É importante considerar os possíveis impactos para a sojicultura que resultarão da imposição de salvaguardas às importações de produtos chineses, especialmente os têxteis. A importância desta commodity para a balança comercial brasileira impede que a sua comercialização seja colocada em risco, ou negociada como moeda de troca; a manutenção da política econômica atual também depende da permanência ou crescimento das exportações do grão.
A diminuição dos carregamentos de soja brasileira para a China, fruto das super-safras americana e argentina, pode se agravar com a imposição das salvaguardas. A grande oferta do mercado possibilitará à China negociar em posição favorável com o Brasil, tanto em aspectos comerciais quanto políticos. Basta saber em qual deles o país está mais disposto a ceder.
A imposição da barreira será cautelosa. O Brasil procura sinalizar para a China que a salvaguarda efetivamente só será adotada em último caso e após negociações. Com isso o governo procura acalmar os setores da economia prejudicados pelas exportações chinesas, e aqueles que poderão ser afetados com possíveis retaliações do país, a exemplo máximo da soja.
* RODRIGO CINTRA é diretor
* MARIANA RICCI é consultora da Focus R. I. – Assessoria & Consultoria em Relações Internacionais


Originalmente publicado em:

Diário de Cuiabá

Edição nº 11248 23/06/2005