Comércio Internacional não é guerra

29/09/2005 0 Por Rodrigo Cintra

O comércio internacional apresenta-se atualmente como uma importante questão para o Brasil. De soja a aviões, o país passou a se mobilizar cada vez mais na procura por novos mercados internacionais. Competitividade e protecionismo passam a ser preocupações centrais para aqueles que encontram no mercado internacional o eixo de suas estratégias. Desta forma, é comum escutarmos que "o comércio internacional é uma guerra".

Um primeiro impacto desta visão é que passamos a encarar os demais atores internacionais como exércitos inimigos, os quais devem ser combatidos com as armas que dispusermos.

Tanto no mercado doméstico quanto no internacional sempre existirão atores que complementam nossos trabalhos e aqueles que estão em direto confronto com ele. Divergências comerciais não ocorrem entre os EUA e o Brasil, porém entre setores da economia americana e setores da economia brasileira.

Um segundo problema que surge é a diferença entre os comportamentos do governo e do setor privado. Enquanto o setor privado é fragmentado e tem várias entidades representativas, o governo deve se apresentar no cenário internacional com um posicionamento único e coerente.

Certamente não é possível ignorar a existência do governo como o papel que este deve desempenhar na lógica econômica dos países, porém se faz necessária uma participação mais intensa dos empresários, criando fóruns internacionais de empresários e coligações.

Ao seguir exemplos de países com alto poder de negociação internacional, devemos buscar uma melhor interação entre o governo e o setor privado; contudo isso não significa que cabe ao setor privado apenas municiar o governo, o qual deverá executar as negociações internacionais. A convergência deve ocorrer no sentido da determinação de macro-objetivos, sendo que cada lado deve assumir suas respectivas responsabilidades na busca destes objetivos.
A criação de escritórios de representação em outros países pode e deve contar com o apoio do governo, entretanto, não deve ser uma iniciativa deste, porém das entidades representativas dos setores produtivos nacionais. Isso reafirma que o comércio internacional não é guerra, mas sim convencimento, comprometimento e competência.

Em última instância é o consumidor final que determina os produtos consumidos, então a eles devemos oferecer um produto que tenha a qualidade solicitada.

Por outro lado, não podemos esquecer dos distribuidores e todos os demais intermediários, que são fundamentais para o sucesso do negócio. A estes devemos oferecer comprometimento e sustentabilidade nos negócios.

Aos governos estrangeiros, por sua vez, devemos apresentar a competência necessária, alcançando os níveis mínimos por eles exigidos. Em última instância, não devem ser encarados como o alto comando de guerra – como costumam fazer aqueles que vêem o comércio como uma guerra – porém como um ator que deve ser convencido da necessidade de comprar produtos importados.

*Rodrigo Cintra é diretor da Focus R. I. – Assessoria & Consultoria em Relações Internacionais [www.focusri.com.br] e vice-presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo [www.camarbra.com.br].


Originalmente publicado em:

Gazeta Mercantil – 6/outubro/2004 – Pág. A3
www.gazetamercantil.com.br