Onde estão os empresários Colloridos?
01/10/2005A sociedade brasileira forjou-se durante os últimos cinco séculos tendo por referencial um movimento pendular de presença estatal: da presença formal nas capitanias hereditárias à implementação drástica da chegada da família real; do centralismo controlado dos governos militares à abertura unilateral de Collor de Mello. Assim, o que se pode perceber atualmente é uma herança sustentada de uma relação tensa e paradoxal entre as forças sociais e a presença do Estado.
Talvez uma das áreas na qual isto é mais explícito é no setor produtivo. Os empresários sempre se mantiveram muito próximos do Estado e, desta forma, demonstraram-se ora inimigos do Estado, quando o acusam de pesado e deturpador do bom andamento da economia, ora o entendem como o parceiro ideal que deverá executar uma boa política industrial e dar todo o suporte necessário às exportações.
A abertura econômica descontrolada do governo Collor de Mello costuma ser lida como uma ação irresponsável de um presidente megalomaníaco. Estranho pensar que justamente a defesa da primazia da dinâmica econômica sobre o jogo político fez com que os empresários defendessem um Estado mais interventor e protecionista. Ao colocarmos numa perspectiva histórica mais ampla perceberemos que a coragem de enfrentar novos mundos em busca de riqueza que foi tão própria das Bandeiras e Entradas perdeu-se e hoje o que vemos são empresários que, majoritariamente, têm medo de desbravar novos mundos assumindo os riscos inerentes de tal empreitada.
Como economia e política são faces de uma mesma moeda, se realmente queremos modernizar o país, devemos nos ocupar tanto em modificar a estrutura estatal e a macro-concepção que devemos ter sobre a coisa pública, quanto a mentalidade do empresariado nacional que tanto pode ser a principal mola-propulsora de nosso desenvolvimento quanto um de seus maiores obstáculos.
Neste sentido, um primeiro fator a ser discutido é sobre a necessidade de os empresários passarem a assumir riscos sem buscar a proteção total e incondicional do Estado. Ao não se mostrarem dispostos a se arriscarem em questões com risco cambial, deixam patente sua desconfiança tanto no próprio país quanto na sustentabilidade econômica de longo prazo. A concentração nos objetivos de curto prazo estabelece uma dinâmica econômica truncada e dependente de contínuas intervenções estatais.
Há que se buscar um bom equilíbrio entre o desenvolvimento econômico sustentado e o protecionismo temporário e coordenadamente implementado. Em tempos de aumento da interdependência econômico-produtiva deve-se tomar muito cuidado para não confundir uma boa política pública com um emaranhado de ações perpetuadoras de influência e desacumulação.
Algumas mudanças intra-empresas também se fazem necessárias. A crescente competitividade internacional faz com que as empresas tenham que automatizar o processo de inovação tecnológica e desenvolvimento de produtos. A dificuldade disto está em não se envolver uma visão de longo prazo para os negócios de forma que as empresas utilizam mais recursos na tentativa de controlar a dinâmica econômica do que propriamente em se capacitar para entrar nesta dinâmica.
Outra importante mudança requerida na mentalidade empresarial brasileira refere-se à busca de uma gerência profissional. Isso significa assumir que o objetivo último das empresas é a busca do lucro, que deve ser limitado apenas por questões éticas e sociais (meio ambiente, respeito à comunidade na qual se encontra, estabelecimento de um estrutura que respeite os funcionários). Esta necessidade vem da própria dinâmica econômica atual que tem como motor os acionistas; a empresa não deve esquecer que os acionistas resolveram emprestar suas reservas para que a empresa pudesse se desenvolvimento. Se estes, dentre das milhares de possibilidade, resolveram investir numa empresa especificamente, ela deve responder à altura.
Cotidiano: Num extremo temos o governo Collor, quando os empresários tiveram que enfrentar o mundo (querendo ou não); no outro temos o governo FHC, quando os empresários foram engolidos pelo mundo (querendo ou não); no governo Lula quase tudo ainda está a se definir, devem escolher: enfrentar o mundo ou serem engolidos (querendo ou não!).
Moral da História: Em tempos de globalização, acreditar no país é investir em si mesmo.
Conselho Literário:
"Não posso deixar este assunto como se seu justo tratamento dependesse inteiramente ou dos nossos compromissos ou de fatos econômicos. A política de reduzir a Alemanha à servidão por toda uma geração; de degradar a vida de milhões de seres humanos, de privar de felicidade uma nação inteira devia ser odiosa e repulsiva – mesmo se fosse possível, ainda que nos fizesse enriquecer, mesmo que não semeasse a decadência na vida civilizada da Europa"
As conseqüências econômicas da paz – J. M. Keynes
As conseqüências econômicas da paz – J. M. Keynes
Originalmente publicado em:
Revista Autor (www.revistaautor.com.br)
Política
Ano III – nº 29 / Novembro de 2003