A falência do Estado e o descaso dos políticos
30/09/2005Que o brasileiro está cansado da política e dos políticos – no plural mesmo! – não é muita novidade. A infindável seqüência de escândalos que vai do mais desconhecido vereador aos mais conhecidos senadores, soma-se ao total descaso por parte destes governantes para com os principais problemas que afligem a população brasileira.
Mas, como estamos em ano eleitoral, não podemos ter uma realidade destas estampada na mídia. Para isso, os políticos – profissionais da maquiagem – cada vez mais lançam mão de uma série de subterfúgios que transfiguram a realidade, e apresentam um mundo muito melhor. Não sei se o caro leitor também assim compreende, mas isso é como dizer que somos burros e, sobretudo ignorantes. “A violência está estável e, em alguns casos, chega até a diminuir”, dizem os políticos, e buscam as estatísticas para comprovar isso que dizem. Ou eles não vivem no Brasil ou ainda não perceberam que nós estamos cansados de fazer estúpidos Boletins de Ocorrência que nada servem a não ser aumentar a quantidade de papel na burocracia. Quantos de nós já não fomos roubados ao parar no sinal ou tivemos nossos carros arrombados para roubarem o rádio?
Como diria o poeta, “de repente, não mais que de repente” uma ridícula epidemia de dengue invade aquilo que seria a área mais urbanizada do Brasil e no final das contas acabamos por descobrir que somos os culpados por tudo isso. Pergunto então: se dois anos atrás tínhamos os mesmos pratinhos de planta com água parada e não havia epidemia de dengue, porque justamente agora somos os culpados? É claro que temos nossa parcela de responsabilidade nisso, mas como podemos ser os responsáveis pelas questões de saúde pública? Quando os primeiros casos apareceram, porque ninguém veio à público explicar o que estava ocorrendo e o que deveríamos fazer?
Depois de passarmos por um processo de privatização que prometia paraísos, vemos alguns políticos irem à televisão, com a cara deslavada, dizer que estávamos na eminência de passarmos por “apagões” pois não tínhamos a produção de energia necessária para atender à demanda. Novamente quem foi apontado como culpado? Exatamente! Nós, os cidadãos, que estaríamos desperdiçando energia elétrica. Mas não ficaram satisfeitos com isso e agora ainda procuram aprovar uma lei que vai nos responsabilizar pelos lucros que as empresas não tiveram.
Os absurdos vão muito além destes que cito, e tenho certeza de que o prezado leitor teria uma lista infindável a acrescentar, tirada de seu cotidiano. Mas não vem ao caso agora, o que importa é chamar a atenção do cidadão para a total inversão de valores e responsabilidades pela qual passamos agora: na teoria nós deveríamos pagar impostos e votar nos políticos e estes cuidariam do gerenciamento da coisa pública; mas o que vemos é que não há gerenciamento algum da coisa pública e quem estiver incomodado que assuma as responsabilidades para si. Mas tem uma coisa que ninguém muda: os impostos, ainda somos nós que pagamos.
É melhor abrirmos o olho e começarmos a nos agitar, quem sabe assim os políticos perceberão que existe vida inteligente aqui, na realidade brasileira.
Moral da história: já dizia o ditado que o melhor estímulo para o empregado é o barulho… dos passos do chefe. Na política, parece que o melhor estímulo é o barulho… da população. É pagar para ver, ou melhor, continuar pagando e, quem sabe, ver!
Originalmente publicado em:
Revista Autor
Política
Ano II – N. 10 – abril de 2002