Fim da austeridade na Europa pode dar prejuízos à Alemanha
02/01/2014A Alemanha corre o risco de, mais uma vez, pagar a conta da União Europeia (UE) com a decisão tomada na reunião do G-20, realizada em Moscou, na sexta-feira e no sábado, sobre a priorização do crescimento dos países em detrimento da política de austeridade.
Segundo especialistas ouvidos pelo DCI, a tensão política nos países europeus, gerada pela insatisfação da população com a política econômica adotada até agora, impulsionou os governos a adotar a mudança na postura, assumindo um grave risco para a economia europeia.
“Há um grande risco de aumento do endividamento dos países para diminuir o descontentamento da população, e isso pode acabar por prejudicar também o Estado alemão”, declarou o chefe do Departamento de Relações Internacionais da Escola Superior e Propaganda e Marketing (ESPM), Rodrigo Cintra. “Para quem já está com problemas econômicos, a criação de mecanismos macroeconômicos, como diminuição de juros, por exemplo, não funciona. No curto prazo tem uma resposta positiva, mas no longo prazo o buraco aumenta, porque a economia não está forte o suficiente”, completou.
Os ministros do G-20 concordaram em colocar o crescimento antes da austeridade após dois dias de reunião, o que representa, além do temor pela instabilidade política dos Estados europeus, uma vitória das visões norte-americanas em meio à preocupação com a fraca recuperação global. Depois dos debates em Moscou, os ministros declararam que “a prioridade de curto prazo é impulsionar o crescimento e a criação de empregos”.
O resultado marca a diferença em relação às reuniões anteriores do G-20, que enfatizaram a necessidade de consertar os orçamentos nacionais.
O ministro de Finanças e secretário do Tesouro britânico, George Osborne, também declarou apoio do G-20 ao plano da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para uma reforma tributária internacional. A OCDE desenvolveu o plano, de 15 pontos, para eliminar brechas que permitem que companhias multinacionais paguem poucos impostos.
Embora a Alemanha tenha pressionado o G-20 a adotar rígidas metas para reduzir as dívidas dos países, o ministro das Finanças do país, Wolfgang Schäuble, sublinhou o suporte alemão aos planos de estímulo ao emprego e ao crescimento econômico.
Schäuble definiu como “um dos maiores e mais importantes desafios do nosso tempo” a tentativa de reduzir o desemprego, mas alertou para que os países não esqueçam a disciplina fiscal, reforçando que não pode haver crescimento econômico sem priorizar o equilíbrio saudável das finanças como uma meta de médio prazo.
Esse esforço encontrou forte oposição nos EUA e as autoridades alemãs receberam pouco apoio dos outros países desta vez. “Com seu forte comunicado neste fim de semana, o G-20 reconheceu a necessidade de buscar políticas que impulsionem crescimento e empregos”, disse o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jacob Lew, ao The Wall Street Journal. Ele afirmou que “está claro que uma política macroeconômica inteligente, centrada em empregos, é a melhor forma de motivar o crescimento econômico”.
No entanto, as autoridades alemãs prometeram voltar a esse assunto novamente quando os líderes do G-20 se reunirem em São Petersburgo em agosto. “Infelizmente não foi possível atualizar de forma confiável as metas estabelecidas previamente em Toronto”, disse o presidente do banco central alemão, o Bundesbank, Jens Weidmann, após a divulgação do comunicado do G-20.
A reunião dos ministros de Finanças e banqueiros centrais do G-20 ocorreu com a intenção de pavimentar o caminho para a reunião de cúpula do grupo em São Petersburgo, em setembro. A decisão mais concreta do encontro foi apoiar um plano da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico que visa combater a evasão fiscal por parte de companhias multinacionais.
Diversos países em desenvolvimento também expressaram o temor de que suas economias sofram quando o Federal Reserve (o banco central norte-americano) começar a reduzir o seu programa de compra de ativos. As compras do Fed, elaboradas para manter baixas as taxas de juros, injetaram dinheiro em países como o Brasil e a Coreia do Sul na medida em que investidores buscaram retornos maiores fora dos EUA. Agora, essa liquidez está em risco enquanto o Fed tenta iniciar sua saída das políticas monetárias acomodatícias.
Os russos, que detêm a presidência do G-20, disseram que os membros do grupo concordaram em definir uma “troca de informações” para melhorar a comunicação sobre política monetária entre as autoridades. No entanto, uma fonte norte-americana negou que os Estados Unidos tenham se comprometido com isso e o comunicado final do G-20 disse somente que futuras mudanças nas políticas monetárias “continuarão a ser cuidadosamente calibradas e claramente comunicadas”.
Publicação original: DCI, 22/07/2013