Dados mais recentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que em janeiro deste ano, o saldo negativo da balança comercial quase dobrou se comparado ao mesmo mês de 2010, ao passar de US$ 316,560 milhões para US$ 630,992 milhões. Desde 2009, vários meses apresentam déficits no saldo da balança comercial entre Brasil e EUA. No acumulado do saldo de 2009 em relação ao de 2010, o resultado negativo também quase dobrou, ao passar de US$ 4,430 bilhões para US$ 7,732 bilhões.
Por outro lado, a corrente comercial entre os países cresceu 29,4% na comparação do primeiro mês de 2010 com janeiro de 2011, ao passar de US$ 3,040 bilhões para US$ 3,934 bilhões. Com relação aos acumulados de 2009 para 2010, houve também alta de 30,07% (de US$ 35,633 bilhões para US$ 46,347 bilhões).
Roberto Segatto, presidente da Associação brasileira de Comércio Exterior (Abracex), acredita que o governo brasileiro tem uma “excelente” oportunidade para discutir a balança comercial com o presidente Obama. “A presidente Dilma é bastante objetiva e no fundo vai aproveitar o encontro para discutir sobre essa questão.”
Para ele, ao tratar da balança comercial, o governo brasileiro poderia também negociar a ampliação da exportação de produtos manufaturados, cujo valor agregado é maior.
Já o chefe do departamento de Relações Internacionais da ESPM, Rodrigo Cintra, não prevê que os déficits da balança comercial entre Brasil e EUA devem ser discutidos na visita do presidente Obama. “Ainda é cedo para se discutir sobre isso. Esses déficits estão, agora, mais relacionados ao câmbio do que a questões políticas. Pela agenda, o Obama parece vir para o Brasil para tratar mais de que questões diplomáticas do que comerciais”, analisa.
Disputas comerciais
Ainda de acordo com Segatto, existem muitas outras questões a serem discutidas, como é o caso de disputas comerciais que envolveram decisões da Organização Mundial do Comércio (OMC). Dois casos recentes estão relacionados ao comércio de algodão e do suco de laranja.
“Essas disputas devem ser tratadas mais do âmbito diplomático. EUA ainda é um bom parceiro comercial. Porém, o Brasil precisa mostrar que tem força e que, no caso do algodão, por exemplo, os subsídios poderiam ser retirados. Ou que, se não fossem retirados, estabelecesse uma troca de mercadorias”, aponta Segatto.
O Brasil venceu disputa contra os americanos na OMC, que considerou ilegais os subsídios pagos pelos Estados Unidos aos produtores de algodão. Como os EUA se recusaram a acabar com os subsídios, a OMC autorizou o Brasil a aplicar uma retaliação de US$ 829 milhões. Desta forma, o país norte-americano preferiu estabelecer um acordo o qual prevê que o executivo dos EUA transfira US$ 147 milhões por ano para o Instituto Brasileiro do Algodão.
No final de fevereiro, o Brasil obteve nova vitória na OMC no contencioso, instalado em setembro de 2009, no qual questiona a aplicação pelos Estados Unidos de taxa antidumping contra o suco de laranja brasileiro.
“Apesar dessas questões pendentes, o governo brasileiro deveria priorizar, no encontro, discussões sobre a vinda de empresas norte-americanas ao Brasil por meio de atrativos como a isenção de impostos e, assim, melhorar o padrão tecnológico do País”, acrescenta Segatto.
Balança comercial
Ainda ontem, o Mdic informou que o acumulado da balança comercial brasileira do ano até a segunda semana de março já é 211% maior que o registrado no mesmo período do ano passado. O superávit da balança comercial já chega a US$ 2,463 bilhões. Nos 48 dias úteis de 2011, a corrente de comércio somou US$ 74,385 bilhões, com aumento de 24,4%.
Com relação às duas primeiras semanas de março, o saldo da balança comercial está positivo em US$ 841 milhões, avanço de 310,6% ao registrado em março de 2010. No mesmo período, a corrente de comércio foi de US$ 12,113 bilhões, alta de 29,3%.
Fonte: Jornal DCI – 15/03/2011