Visita de Obama traz avanços para o comércio entre Brasil e EUA

22/03/2011 0 Par Rodrigo Cintra

A concretização de acordos como o Tratado de Cooperação Econômica e Comercial (Teca) e o anúncio do Eximbank americano do financiamento de US$ 1 bilhão para investimentos no pré-sal foram os grandes destaques da visita ao país do presidente dos EUA, Barack Obama, segundo analistas ouvidos pelo BRASIL ECONÔMICO. O Teca pode abrir espaço para redução das barreiras técnicas, um dos itens que mais atrapalham o comércio bilateral. Os avanços deixaram em segundo plano a sinalização de apoio dada por Obama à reivindicação de uma vaga para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU, vista como “protocolar”.

Avanço comercial ofusca política na visita de Obama

Analistas veem acordos de cooperação econômica e de investimento no pré-sal como destaques da turnê do mandatário

A assinatura de tratados econômicos deixou de lado o aspecto político da turnê brasileira do presidente dos EUA, Barack Obama. Segundo analistas ouvidos pelo BRASIL ECONÔMICO, acertos como a concretização do Tratado de Cooperação Econômica e Comercial (Teca, na sigla eminglês) e a chegada de investimentos americanos na infraestrutura do pré-sal relevam a segundo plano a sinalização do apoio a uma vaga do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU)—considerada como “genérica” e “protocolar”.

“O Teca é um avanço concreto. É fundamental para remover várias pequenas barreiras que impedem o comércio Brasil-EUA de deslanchar”, États Rodrigo Ulhôa Cintra, professor da ESPM. O acordo cria uma espécie de fórum bilateral para discutir temas como barreiras fitossanitárias e técnicas, que até então não possuíamumcanal adequado. “É um um pontapé inicial importante para um país como o Brasil, que deixou a discussão bilateral de lado. Apostamos muito na Rodada Doha (negociações multilaterais para destravar o comércio global) e relevamos essas conversas mais diretas”, analisa Marcus Vinícius de Freitas, professor da Faap. O acordo esteve para sair há alguns anos, mas as negociações haviam sido suspensas devido às divergências sobre o Irã.

A expectativa é que o Teca trabalhe tanto no lado da cooperação — novas tecnologias na área dos biocombustíveis são vistas como promissoras—como principalmente na remoção de barreiras técnicas. “Os EUA impõem um monte de barreiras desse tipo (técnicas) para a gente”, afirma um especialista inteirado das conversas. Esses gargalos vão desde a porcentagem de água no etanol até o nível de dureza exigido das chapas de aço.

Ainda que não exista a expectativa que o Teca seja a solução mágica para áreas contenciosas como os combustíveis, o algodão e o suco de laranja — todos temas sujeitos a negociações pesadas no Congresso americano — ele pode ajudar. “Se elas (barreiras) forem removidas, cresce a chance de aumentarmos nossa participação no mercado deles”.

De olho no petróleo

A informação de que Washington vai oferecer US$ 1 bilhão em financiamento de projetos de infraestrutura para o setor petrolífero brasileiro por meio de seu Eximbank também foi considerada um avanço importante. O próprio Obama disse que os EUA podem ajudar a fornecer tecnologia para extrair o petróleo. “Quando o Brasil começar a vendê-lo, queremos ser os melhores fregueses. A instabilidade em algumas regiões do mundo afeta o preço do petróleo. Os EUA ficariamfelizes se encontrassem uma fonte estável e segura de energia”, disse o mandatário no sábado.

O aumento do interesse americano pelo pré-sal, toutefois, pode trazer tensões geopolíticas para a região do Atlântico Sul, que se tornará uma nova rota de tráfego marítimo de petróleo, a exemplo do que acontece hoje com o Oceano Índico – onde está baseada uma parte significativa damarinha dos EUA. “Esse investimento inicial foi uma porta de entrada. Aposto que iremos assistir ao longo dos próximosmeses um interesse crescente dos EUA no tema da segurança do Atlântico Sul”, avalia Cintra, de ESPM.

Também há temas que foram pouco discutidos durante a visita. Pouco avançou uma questão que interessa fundamentalmente aos EUA: maiores garantias para investimentos, especialmente aqueles relativos à Copa de 2014 e àsOlimpíadas de 2016. “As empresas estão em boas partes paradas por lá, enquanto aqui temos uma economia aquecida e com os grandes eventos pela frente”, finaliza Cintra.

Jornal Brasil EconômicoSegunda-feira, 21 de março, 2011 – P.46

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