Há uma armadilha silenciosa que muitas organizações caem sem perceber: apostar em apenas um tipo de liderança como se fosse suficiente para sustentar todas as fases do negócio. É comum celebrarmos os líderes inovadores, que desafiam o status quo, e também os líderes gestores, que fazem tudo funcionar com eficiência. Mas o real poder da liderança está no equilíbrio. Nenhum tipo, isoladamente, dá conta da complexidade que uma organização enfrenta ao longo do tempo.
Toda empresa precisa, em maior ou menor grau, de dois perfis de liderança. O primeiro é o líder holístico — alguém com visão do todo, capaz de manter a máquina funcionando, conectar partes e garantir a estabilidade necessária para que as engrenagens operem em sintonia. É esse perfil que sustenta o presente e reduz riscos operacionais. O segundo é o líder criativo engajado — aquele que enxerga possibilidades, desafia processos, propõe mudanças viáveis e conduz a organização para novos caminhos. Sua criatividade não é solta: é alinhada à realidade e aos objetivos do negócio.
O problema surge quando uma empresa insiste demais em apenas um desses estilos. Quando há dominância prolongada do líder da inovação, o risco é uma organização que vive de ideias, mas entrega pouco. Muitos projetos começam e poucos terminam. Faltam estrutura, consistência e clareza de direção. D'autre part, quando prevalece apenas a liderança da manutenção, a empresa pode entrar numa zona de conforto que sufoca a renovação. Tudo funciona, mas nada se transforma — até que o mercado mude e seja tarde demais para reagir.
A escolha do tipo de liderança não é uma preferência pessoal ou de cultura. É uma decisão estratégica. Empresas em processo de consolidação, integração ou expansão operacional precisam mais do líder holístico. Já empresas que enfrentam estagnação, perda de competitividade ou rupturas de mercado precisam mais do líder criativo engajado. Mas nenhuma delas pode abrir mão de ambos por muito tempo.
O desafio não está em “corrigir” um estilo com outro, mas em saber quando e onde cada um faz mais sentido. Algumas áreas precisam de estabilidade; outras, de reinvenção. Alguns momentos pedem controle e previsibilidade; outros, experimentação e ousadia. A liderança organizacional madura é aquela que constrói um ecossistema em que diferentes perfis coexistem, se revezam e se complementam com inteligência.
Se queremos organizações verdadeiramente adaptáveis, precisamos parar de buscar o “líder ideal” e começar a desenhar estruturas que valorizem a diversidade de estilos. Isso começa com uma pergunta corajosa: o tipo de liderança que domina hoje na sua empresa é o que ela realmente precisa agora?
Se a resposta for não, talvez seja hora de equilibrar as forças.
A liderança certa, no momento certo, pode ser o fator que separa empresas que apenas sobrevivem daquelas que realmente evoluem.