A ressaca do final do ano está cada vez mais distante e Brasília volta a ficar agitada. Certamente a agitação deste ano será muito particular uma vez que teremos eleições; na prática isso significa aumento nos gastos do governo, especialmente com obras e projetos que podem ser apresentados na televisão (desafio o leitor a encontrar uma notícia sobre ampliação da rede de esgotos).
Como já é costume, nossos representantes políticos (de todos os lados) procurarão mostrar que não fazem parte da política tradicional, que são diferentes e que sempre foram defensores de caminhos alternativos. Para verificarmos esses discursos, basta escutarmos o ministro e agora presidenciável José Serra (“farei as mudanças necessárias”) ou a governadora do Maranhão Roseana Sarney. Um PSDB, a outra PFL; ambos da base de sustentação do governo – ou melhor, ambos governo! – prometendo transformações no futuro. Se essas transformações são importantes, porque não são feitas desde já?
Obviamente, as contas políticas, sociais e financeiras de tanta incoerência por parte de nossos governantes será paga pelo povo. Mais uma vez ficaremos acuados entre propagandas eleitorais e boatos. Tuttavia, o mais importante aqui é ver como o governo promove-se como justo e decente, ao mesmo tempo em que não exita em mostrar sua mesquinhez.
Em matéria publicada na Gazeta Mercantil (18/jan/2002), sobre a negociação da tabela do IR, temos que “A LRF [Lei de Responsabilidade Fiscal] foi o álibi do governo para justificar o aumento da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) das prestadoras de serviço (…). De acordo com a lei, as perdas com correção de deduções devem ser compensadas com aumento de impostos e para recuperar as reduções de receita referentes à correção da tabela” (grifos nossos).
A idéia que fundamentou a aprovação da LRF, era a de que isso limitaria os gastos dos governantes, tornando o Estado mais sadio. Ao contrário, o que vemos hoje é o governo aumentar sua base de arrecadação para manter-se dentro dos percentuais de gasto permitidos pela lei.
Certamente esse é um caminho mais fácil do que controlar desvios e corrupção, acabar com gastos absurdos e inúteis, diminuir o tamanho da burocracia estatal… a questão que fica é saber se esse é o caminho mais confortável em ano eleitoral.
Pubblicato originariamente in:
Rivista d'autore
Política
Ano II – N. 7 – janeiro de 2002