Aligner, ce n'est pas soumettre – l'étrange cas Brésil / États-Unis
04/08/2020À différentes occasions, on peut voir comment les dirigeants du gouvernement brésilien affirment l'alignement qu'ils recherchent avec les États-Unis. Do presidente Bolsonaro e seus filhos ao chanceler Ernesto Araújo, é possível ver declarações de como estamos alinhados e como isso trará benefícios ao país.
Interessante notar que não conseguem expor quais benefícios teremos, reduzindo muito do discurso a uma visão ideológica superficial, na qual dizem que é a forma de evitar a esquerda. Muito deste posicionamento é resultante de uma visão mais limitada sobre o sistema internacional, percebendo os Estados dentro de uma dualidade de amigos ou inimigos.
A ascensão da China como uma potência fez com que reeditássemos a visão da Guerra Fria. Comme ça, existe um grupo que é o “bem” e outro que é o “mal”. Aqui Estados Unidos são o bem (porque de direita) e a China o mal (porque de esquerda). Ainda que desconsideremos a visão simplória de esquerda e direita que se pretende construir, essa visão bipolarizada do sistema internacional se mostra limitada.
Os fatos estão longe do discurso, mas nem sempre a realidade parece ter relevância neste tipo de discussão. Se pensarmos em termos comerciais, o Brasil depende mais da China do que dos Estados Unidos. Basta olharmos o peso que os chineses têm nas exportações do agronegócio brasileiro[i]. Toutefois, o discurso é de crítica à China e elogios aos Estados Unidos.
Não se trata de negar os Estados Unidos e sua relevância. Ao contrário, é um país importante para a região e para o país, com o qual devemos buscar um relacionamento de longo prazo, temos muitos interesses comuns. O que não se pode é acreditar que o simples fato de declararmos que estamos alinhados nos trarão o retorno que buscamos.
Tirando a dimensão de uma crença em ideologias próximas dos presidentes de lá e de cá, pouco parece sobrar. Ambos se afirmam de direita, ainda que direita nos Estados Unidos signifique algo muito diferente daquilo que temos no Brasil (sem fazer qualquer julgamento aqui sobre qual é melhor).
Donald Trump não é considerado um Republicano típico nem mesmo dentro de seu partido, gerando uma forte movimentação de outras lideranças republicanas para boicota-lo, mesmo que a custo da eleição de um presidente de outro partido[ii]. E, ainda que forcemos nossa visão e o percebamos como um republicando, é importante notar que governos republicanos são mais protecionistas comercialmente e nacionalistas em termos de políticas. Resultado: o Brasil costuma ser menos relevante para os Estados Unidos durante estes governos.
No final, o que se percebe é um discurso de alinhamento vazio, que está mais focado nas bravatas dos que propriamente nos interesses e ações. Até aí não haveria tanto problema, se isso não limitasse nossa atuação em outros campos. Os constantes desgastes desnecessários com a China, a desvalorização contínua de iniciativas como os BRICS e a baixa conexão com as agendas latino-americanas acabam por mostrar quanto o Brasil está distante dos fatos.
Como diz Rubens Ricúpero, “é uma situação que é difícil de discutir racionalmente, porque não tem nenhuma racionalidade”[iii].
[i] Ver o artigo As exportações do agronegócio e o tamanho da China em https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/opiniao/2020/07/749537-as-exportacoes-do-agronegocio-e-o-tamanho-da-china.html
[ii] Ver o artigo A guerrilha de republicanos que luta contra a reeleição de Trump em https://brasil.elpais.com/internacional/2020-07-19/a-guerrilha-de-republicanos-que-luta-contra-a-reeleicao-de-trump.html
[iii] Bolsonaro substituiu Duterte e virou ‘pior vilão internacional’, diz Rubens Ricupero disponível em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53086999
Publié à l'origine dans Carte du monde (www.mapamundi.org.br)