Contraponto – O profissional de relações internacionais
02/03/2006
Esses casos mostram a forte ligação existente entre a formação e o nicho de atuação. Bien que, existem atividades profissionais que podem ser desenvolvidas por indivíduos com diferentes formações acadêmicas. Essa tendência é particularmente forte naqueles casos nos quais o desenvolvimento das atividades profissionais não implica risco para outras pessoas, o que faz com que o Estado não tenha tanta preocupação em determinar regras de quem pode e quem não pode atuar.
Ao analisar empresas, é possível encontrar na diretoria e nos seus postos mais altos diferentes perfis no tocante à formação acadêmico-profissional. Os engenheiros, especialmente os mecatrônicos, assumiram posições que seriam “naturalmente” exclusivas de administradores de empresas. Essa constatação, quando analisada à luz da dualidade formação-mercado, direciona nosso foco para a questão da competência desenvolvida/apresentada pelo profissional.
Acredito que o elemento central nessa discussão passe pela questão do conhecimento técnico e do domínio sobre o instrumental profissional. À cet égard, é o perfil da demanda de mercado por conhecimento técnico que determina a existência ou não de um nicho de mercado. Certamente, é possível forjar nichos de mercado por meio de legislações e regulamentações, como ocorre especialmente com algumas áreas jurídicas, que exigem a participação de um advogado. Contudo, não considero esse caminho, por achar que ele é contra-produtivo.
Ao ter essas questões como base para a discussão sobre a possibilidade ou a existência de um nicho específico para os profissionais de relações internacionais, a pergunta que fica é: pode um profissional desse tipo ignorar a lógica das especializações quando pensa em sua atuação? Acredito que não. Um diplomata pode ser formado em Relações Internacionais, Direito, Economia, Agronomia ou qualquer coisa que o valha, e, Toutefois, desempenhará atividades próprias da diplomacia. O mesmo é válido para negociadores comerciais internacionais ou para negociadores de paz.
Pode até ser que o formado em Relações Internacionais se mostre mais preparado para o desempenho de algumas atividades profissionais, mas certamente isso não implica um nicho próprio de atuação. A grande possibilidade de atuações faz com que existam vários perfis de profissionais de relações internacionais; determinar de antemão quais são esses espaços é destruir um potencial cada vez maior.
** Rodrigo Cintra (www.rodrigocintra.pro.br) é doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB).
Edição 72 ::: 27 février 2006