Parlamento do Mercosul: retórica ou esperança?
06/10/2005
Casos como a crise entre Argentina e Brasil com relação à linha branca podem ser encontrados ao longo da história do Mercosul. O problema não está no surgimento de conflitos como esse, algo natural em qualquer processo de integração, mas na forma como as sociedades encaram esses conflitos.
Em geral o que se vê é um tratamento simplista e bastante enviesado das posições adotadas por cada lado, como se estivéssemos num caso puro de conflito comercial. É importante observar que, num processo de integração, o mais importante é desenvolver mecanismos e encontrar soluções que possibilitem a superação do conflito com um mínimo de trauma no relacionamento como um todo.
Porém não é isso que se percebe quando analisamos o posicionamento adotado pela mídia e, em conseqüência, por grande parte da população. Em geral diz-se que a posição do outro país é inaceitável e que não está respaldada em parâmetros minimamente aceitáveis.
Com a população adotando posicionamentos mais simplistas como esses, torna-se bastante complicado para um governante se colocar de forma contrária. Os custos políticos envolvidos em tentar desenvolver um posicionamento mais favorável à manutenção do processo de integração apresentam-se como demasiadamente grandes.
Ainsi, podemos perceber que o voluntarismo dos presidentes com relação ao Mercosul encontra respaldo na própria lógica política doméstica. Com isso forma-se um ciclo vicioso no qual os governantes não conseguem se comprometer com o Mercosul no longo prazo pois suas respectivas populações não dão apoio político; e estas não dão o apoio necessário pois não conseguem ver no Mercosul uma política interessante e sustentável para seus interesses.
Conseguir romper com esse ciclo é algo vital para construirmos uma integração forte e que seja capaz de trazer benefícios para todos os membros. À cet égard, surge como algo interessante a recente proposta de formar o Parlamento do Mercosul, feita pelo deputado uruguaio Roberto Conde, presidente da Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul.
A idéia é criar o Parlamento já em 2007, sendo que em 2011 já apresentaria eleições diretas para os parlamentares. Por enquanto há apenas conversas entre os corpos diplomáticos dos países-membros, ainda assim deve-se observar que é uma idéia formalmente lançada, o que gera expectativas.
Dans ce cas, aparentemente uma nova possibilidade se abre para o deslanchar do processo de integração no cone sul-americano. A existência de parlamentares mercosulinos pode fazer com que parte das decisões do processo de integração saia do controle dos poderes Executivos, tornando-se algo mais autônomo. À la fois, a existência de um novo fórum de debate sobre o Mercosul pode ajudar a formar uma base mínima de discussão sobre a integração, modificando o comportamento simplista que a opinião pública tem apresentado.
D'autre part, não podemos nos iludir acreditando que esse será um processo fácil. Como já apontado, em geral tendemos a colocar objetivos maiores do que aqueles que conseguimos conquistar ou que estamos dispostos a investir. Um parlamento exige gastos financeiros e políticos. A questão que fica é o quanto os governantes conseguirão levar esse projeto adiante.
* Rodrigo Cintra est directeur de Focus R. je. – Conseil & Consultoria em Relações Internacionais e Vice-presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo.
Publié à l'origine dans:
Boletim Informativo da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo
octobre 2005
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