Le Brésil n'est pas en crise
01/10/2005On a beaucoup parlé dans les médias de la crise que traverse le pays. Não é preciso muito para verificar manchetes dizendo que o governo Lula está perdido, que os deputados estão acuados diante de tantos escândalos, ou ainda que a população brasileira não agüenta mais tanto descaso.
D'autre part, quando fechamos a revista ou desligamos o jornal o mundo parece ser bem outro. A tal indignação da população não passa, comme, d'ailleurs, nunca passou de pequenas reclamações de ordem privada. O constante bom-humor brasileiro cuida para transformar nossa tragédia em comédia: "a coisa tá dura, não veio meu mensalão".
Ao contrário do que dizem os arautos da ética, em suas confortáveis posições de pessoas isentas de responsabilidade pelo atual estado do país, o Brasil não passa por uma crise. A política continua seu caminho usual e está muito bem, obrigado. Presidente Lula continua tão perdido quanto estava no início de seu mandato; a compra e venda de posições parlamentares continua tão direta e clara quanto antes, mesmo que nosso mais novo presidente da Câmara dos Deputados insista em dizer que não.
Certamente cairão alguns deputados para satisfazer uma falsa demanda da população por moralização. Mas isso não muda em nada os dias em Brasília nem tampouco nas demais cidades brasileiras. Continuamos nosso tradicional caminho de subornar fiscais para evitar embargamentos de construções, continuaremos a não emitir notas fiscais como uma forma de recolher menos impostos e, quando sairmos para passear no feriado, continuaremos subornando os policiais que teimam em encontrar problemas em nossos carros.
Não faço aqui uma generalização total, nem todos os brasileiros fazem isso. Mas também não podemos ficar escondendo a realidade em discursos politicamente corretos. A ética brasileira, gostemos ou não, apresenta-se fortemente marcada pela busca de soluções extra-oficiais para todos os problemas, o famoso "jeitinho".
É esse o ponto que deveria ser debatido se realmente estivéssemos dispostos a mudar alguma coisa nessas terras. Mas não é esse o caminho que temos seguido. O culpado sempre é o outro (o governo, o imperialismo, o FMI, o MST, os corintianos), nunca eu ou você.
Deixo aqui uma pergunta que não deve ser respondida em voz alta, no máximo em pensamento na parte mais discreta do cérebro: qual a diferença entre você, o ex-deputado Roberto Jeferson e o juiz de futebol Edílson Pereira de Carvalho? Para ajudar na resposta, indicarei algumas semelhanças: são todos brasileiros, imersos numa mesma cultura, numa mesma estrutura social e com ambições de mesma natureza.
Devo concordar com meu leitor que estou sendo bastante radical em colocar todos no mesmo barco. É verdade, eles tendem a teatralizar mais do que você; eles são corruptos que só pensam nos próprios interesses; eles são pessoas sem escrúpulos. Realmente a questão de intensidade passa a ser fundamental aqui para nos diferenciarmos!
Esqueçamos a política por um momento. Tomei a liberdade de colocar duas falas recentemente feitas em função da Máfia do Apito. Peço ao leitor que, leia cada citação duas vezes: na primeira considere apenas o texto principal, na segunda substitua o termo em itálico pelo termo entre colchetes. Na primeira leitura entenda que estou comentando a questão do futebol, na segunda a questão do mensalão.
"A maioria dos árbitros [Les politiciens] está incomodada e de luto, porque um caso como esse mancha a nossa classe. LA Edílson [Deputado Roberto Jeferson] não responde pela arbitragem [Câmara dos Deputados] nacional ou internacional, mas sim pelos atos dele e pelo caminho que seguiu" – juiz Wagner Tardelli.
"Também estamos de luto por isso. O caso gerou uma dúvida sobre a classe toda, que a partir de agora vai trabalhar coagida. Se tiver de paralisar o campeonato [Congrès], pode paralisar. Essa atitude terá meu total apoio desde que os culpados fiquem no seu lugar: a cadeia" – treinador Leão
Vamos ser sinceros, as duas falas servem perfeitamente para os dois casos. O discurso é o mesmo porque a realidade é a mesma. A política continua a mesma desde o sempre e provavelmente essa questão do futebol também continuará. E a lista não pára por aqui, provavelmente nossas vidas continarão no mesmo ritmo, no mesmo mode opératoire.
Enquanto teimarmos em achar que o problema não é nosso, que somos apenas vítimas dos descasos dos poderosos, continuaremos sendo cúmplices de nossa própria incapacidade de determinar o futuro que queremos.
Moral da história: Entender um país é mais do que identificar os fatos que constituem seu cotidiano.
Ao contrário do que dizem os arautos da ética, em suas confortáveis posições de pessoas isentas de responsabilidade pelo atual estado do país, o Brasil não passa por uma crise. A política continua seu caminho usual e está muito bem, obrigado. Presidente Lula continua tão perdido quanto estava no início de seu mandato; a compra e venda de posições parlamentares continua tão direta e clara quanto antes, mesmo que nosso mais novo presidente da Câmara dos Deputados insista em dizer que não.
Certamente cairão alguns deputados para satisfazer uma falsa demanda da população por moralização. Mas isso não muda em nada os dias em Brasília nem tampouco nas demais cidades brasileiras. Continuamos nosso tradicional caminho de subornar fiscais para evitar embargamentos de construções, continuaremos a não emitir notas fiscais como uma forma de recolher menos impostos e, quando sairmos para passear no feriado, continuaremos subornando os policiais que teimam em encontrar problemas em nossos carros.
Não faço aqui uma generalização total, nem todos os brasileiros fazem isso. Mas também não podemos ficar escondendo a realidade em discursos politicamente corretos. A ética brasileira, gostemos ou não, apresenta-se fortemente marcada pela busca de soluções extra-oficiais para todos os problemas, o famoso "jeitinho".
É esse o ponto que deveria ser debatido se realmente estivéssemos dispostos a mudar alguma coisa nessas terras. Mas não é esse o caminho que temos seguido. O culpado sempre é o outro (o governo, o imperialismo, o FMI, o MST, os corintianos), nunca eu ou você.
Deixo aqui uma pergunta que não deve ser respondida em voz alta, no máximo em pensamento na parte mais discreta do cérebro: qual a diferença entre você, o ex-deputado Roberto Jeferson e o juiz de futebol Edílson Pereira de Carvalho? Para ajudar na resposta, indicarei algumas semelhanças: são todos brasileiros, imersos numa mesma cultura, numa mesma estrutura social e com ambições de mesma natureza.
Devo concordar com meu leitor que estou sendo bastante radical em colocar todos no mesmo barco. É verdade, eles tendem a teatralizar mais do que você; eles são corruptos que só pensam nos próprios interesses; eles são pessoas sem escrúpulos. Realmente a questão de intensidade passa a ser fundamental aqui para nos diferenciarmos!
Esqueçamos a política por um momento. Tomei a liberdade de colocar duas falas recentemente feitas em função da Máfia do Apito. Peço ao leitor que, leia cada citação duas vezes: na primeira considere apenas o texto principal, na segunda substitua o termo em itálico pelo termo entre colchetes. Na primeira leitura entenda que estou comentando a questão do futebol, na segunda a questão do mensalão.
"A maioria dos árbitros [Les politiciens] está incomodada e de luto, porque um caso como esse mancha a nossa classe. LA Edílson [Deputado Roberto Jeferson] não responde pela arbitragem [Câmara dos Deputados] nacional ou internacional, mas sim pelos atos dele e pelo caminho que seguiu" – juiz Wagner Tardelli.
"Também estamos de luto por isso. O caso gerou uma dúvida sobre a classe toda, que a partir de agora vai trabalhar coagida. Se tiver de paralisar o campeonato [Congrès], pode paralisar. Essa atitude terá meu total apoio desde que os culpados fiquem no seu lugar: a cadeia" – treinador Leão
Vamos ser sinceros, as duas falas servem perfeitamente para os dois casos. O discurso é o mesmo porque a realidade é a mesma. A política continua a mesma desde o sempre e provavelmente essa questão do futebol também continuará. E a lista não pára por aqui, provavelmente nossas vidas continarão no mesmo ritmo, no mesmo mode opératoire.
Enquanto teimarmos em achar que o problema não é nosso, que somos apenas vítimas dos descasos dos poderosos, continuaremos sendo cúmplices de nossa própria incapacidade de determinar o futuro que queremos.
Moral da história: Entender um país é mais do que identificar os fatos que constituem seu cotidiano.
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Magazine d'auteur (www.revistaautor.com.br)
Política
Ano V – N. 51 – outubro de 2005