Roseana, PSDB e TSE: o velho e bom Brasil

30/09/2005 0 Par Rodrigo Cintra
A democracia pode ser descrita de diversas formas (de versões instrumentais à versões participativas); independente da escolha que alguém tome, um dado é constante: uma democracia verdadeira exige regras do jogo dadas.

Dans ce sens, uma democracia é como um jogo de futebol. Quando os jogadores entram em campo, já sabem quais são as regras do jogo e sabem qual papel devem desempenhar para alcançar o objetivo: a vitória. Imagine que um juiz muda as regras a cada dez minutos, isso poderá proteger um time ou desestabilizar o jogo de tal forma que será inviável sua continuidade.

No Brasil nos especializamos em alterar as regras do jogo constantemente, ou melhor, sempre que o time adversário ser aproxima da vitória. Mais, para não ficar muito escancarada esse nosso “jeitinhode resolver as coisas, sempre procuramos emprestar um certo ar de legitimidade, buscando nas palavras de um jurista ou nas ações de um estadista a fonte da “verdadeque deve nos guiar.

O último caso que se encaixa neste perfil foi a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que homogeneíza as coligações partidárias[1]. A decisão, em si, não parece ser grave; a questão que mais chama a atenção é que foi tomada às vésperas das eleiçõeslembrando-se que so

mos especialistas em antecipar o processo eleitoral em aproximadamente um ano, ainda que o ato de votar continue na mesma data. O resultado disto foi uma profunda alteração nas relações de poder e nos cálculos eleitorais que os partidos vinham desenvolvendo até o momento.

Vamos nos concentrar no caso Roseana/PFL, que talvez tenha sido o mais afetado por tudo isso. O PFL sabidamente prefere ser o partido do poder e não da candidatura, C'est, enquanto os partidos saem para a frente de batalha, o PFL tende a ficar por trás do cenário, de forma a chegar mais perto do vencedor, afinal, “deus está do lado de quem vai vencer”.

A candidatura Roseana pode ter sido um tiro pela culatra do tradicional modus operandi do partido. Lançaram uma candidata para ver o que conseguiam de apoio e, com isso, mostrar aos demais jogadores quais moedas tinham disponíveis e até onde poderiam chegar. Como a candidatura Roseana decolou, o partido foi forçado a apostas mais seriamente em sua candidatura e, com isso, sai de sua posição parda e entra na linha de frente eleitoral.

Os custos da linha de frente são muito altos. O nível e a qualidade de exposição do candidato são decisivos para o resultado. A Roseana ficou livre no começo pois ainda não era interessante procurar mostrar um possível outro lado da candidatura pefelista. Já há algum tempo roda na internet um e-mail dizendo como está o Maranhão desde que os Sarneys chegaram ao poder, mas agora a artilharia começa a ficar mais forte, sobretudo porque estamos num cenário de crescimentoainda que discretodo candidato do governo.

O último capítulo desta novela é o que o PFL entendo como um golpe do PSDB. Para eles, uma ala mais radical do PSDB macumunou com o TSE para que mudasse as regras do jogo justamente agora que Roseana ensaiava para assumir a primeira posição nas intenções de voto. Mas não parou por aí, investigações contra uma empresa do marido da presidenciável governadora do Maranhão foi alvo de uma ação forte e bastante midiática, numa investigação por corrupção e desvios.

A primeira resposta de Roseana e seu time foi criticar o PSDBleia-se, a ala ante PFLpor tentativa de desestabilizar a candidatura PFL. Tudo seria um golpe sujo e sem fundamentos.

Se fosse com o Paulo Maluf, provavelmente estaríamos escutando: “é bom que abram toda a documentação mesmo, assim verão que não fiz nada”. Mas com ela é diferente, procura manter toda a documentação parada dentro do seu estado ou, se possível, retomá-la para a empresa. Passado o susto, a turma do PFL parou de se manifestar e, tudo indica, agora trabalha nos bastidores. Se tem alguma coisa aí ou não, somente a história irá contar (e espero que conte para todos nós e não só para aqueles que estão no núcleo do poder).

É estranho que o PFL não estivesse preparado para um caso como esse uma vez que jogos de bastidores sempre foram sua especialidade. É pagar para ver.

Moral da história: nunca mostre todos os seus segredos e práticas pois, um dia, eles podem ser usados contra você.


Notas

[1] O TSE decidiu no dia 26 último, depois de um pedido de consulta feito 6 meses atrás pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que os partidos que estiverem coligados no pleito presidencial, não poderão fazer coligações diferentes nos demais níveis.


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Política

Ano II – N. 9 – março de 2002