Au cours des dernières semaines, le dollar est passé de R $ 3,50 et la bourse a montré des baisses significatives. De um lado temos os nacionalistas que dizem ser isso tudo fruto de pura especulação; do outro temos os controladores do grande capital jogando a culpa no “risco Brasil”. A final de contas, o que está ocorrendo? Quem são os culpados por tudo isso, gregos ou troianos?
Nem tanto lá, nem tanto cá. Ainda que ambos tenham seus pontos de sustentação, ocorre uma mútua incompreensão, que prejudica ainda mais o atual cenário nacional.
Partamos do recente acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Pela terceira vez no governo Fernando Henrique, tivemos que recorrer ao fundo para conseguir a liquidez necessária e não colocar todo o nosso sistema financeiro em xeque-mate – em xeque ele já está, e há muito tempo. São US$ 30 bilhões que dão munição para que o Banco Central possa tratar com as ondas especulativas que estão aumentando em rapidez e tamanho. Enquanto em julho o Banco Central tinha por tática a injeção diária de US$ 50 des millions, a partir deste último acordo com o FMI a atuação passou a ser decidida de acordo com o andamento do mercado, o que aumenta o risco da especulação já que uma atuação mais incisiva do Banco Central pode jogar o preço do dólar para baixo.
Mas esta não é a única razão que levou o governo brasileiro a buscar o apoio do FMI. Existe uma fragilidade inerente à economia brasileira que não pode ser resolvida do dia para a noite: o fechamento das contas externas.
Não há dúvidas que os dois mandatos de Fernando Henrique lograram alcançar um grande desenvolvimento para o país, ao menos em termos econômico-produtivo. toutefois, esse processo de modernização foi acompanhado por um assustador aumento da dívida externa do país (tanto a pública quanto a privada). Quando os primeiros problemas apareceram, tratamos de melhorar nossa balança de pagamentos e até alcançamos superávit primário, mas os serviços da dívida não deixam que alcancemos um superávit geral. Como não temos a máquina de fazer dólar, só nos restou procurar os dólares com quem os tem. E aqui começa o nosso problema.
Não podemos dizer que o mundo passa por uma fase de ouro, com estabilidade e sobra de recursos. O Eixo do Mal continua dominando grande parte da agenda internacional e a casa estadunidense ainda tem muito para arrumar, com os diários escândalos sobre maquiações dos balanços contábeis de grandes empresas. Se dentro de casa está tudo incerto, o que podemos dizer sobre o resto do mundo?
O cenário doméstico brasileiro também não é um dos mais apropriados para o momento. As disputas eleitorais concentram todas as atenções e estão por demasiado patéticas. Não fosse a história dos candidatos, teríamos sérias dificuldades para distinguí-los uns dos outros. Os planos de governo apresentados não passam de um exercício de retórica sem qualquer fundamento no cotidiano do país.
Um investidor internacional, por mais que conheça o Brasil (os analistas de mercado, généralement, são brasilianistas que entendem muito bem o Brasil, as vezes até mais do que muitos de nós), sempre fica em dúvida quanto ao que acontecerá nas terras cabralinas. Se o governo tucano não é o melhor na visão do mercado, ao menos é algo que já está aí, cujos fundamentos já são conhecidos e eis porque um governo Lula ou Ciro tanto preocupa o mercado.
Com essa pulga atrás da orelha, todos temem que o país não agüente nos próximos anos e correm para se proteger, afinal, nossa vizinha Argentina deu muitos prejuízos aos investidores internacionais. E assim, aqueles que detêm dólares mostram todas as suas características de bons especuladores do século XXI: (1) estão sempre tensos e esta tensão é traduzida em segundos; (2) se alguma coisa parecer errada, saem o mais rápido possível, a não ser que as promessas de retorno aumentem; e (3) lucros é o único objetivo.
Eles não estão errados ao se comportarem desta forma, essas são as regras do jogo. E nós não estamos errados ao dizer que eles são especuladores calculistas que ignoram a existência de seres humanos nos mercados que atuam. Para solucionarmos esta situação, precisamos colocar a questão da ética da igualdade na agenda internacional, o que não deve ocorrer tão cedo. Outra solução, seria diminuir a dependência do país para com os capitais internacionais que só vem aqui atrás de lucros, mas isso tem custos internos e parece que ainda não estamos dispostos a pagar.
Moral da história:se ainda nos resta um bode expiatório, por que gastar munição contra a realidade?
Conselho literário: "Porque os detalhes, como se sabe, conduzem à virtude e à felicidade; as generalidades são males intelectualmente necessários. Não são os filósofos, mas sim os colecionadores de selos e os marceneiros amadores que constituem a espinha dorsal da sociedade" (Admirável mundo novo – Aldous Huxley).
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Magazine d'auteur
Economia
Ano II – N. 14 – agosto de 2002