A escolha do curso de Relações Internacionais

29/07/2010 0 Por Rodrigo Cintra

Este texto é um e-mail de resposta que enviei a uma aluna de ensino médio que estava interessada em fazer Relações Internacionais porém tinha escutado de amigos que muitos do que fazem o curso estão arrependidos da escolha, não encontram emprego e acreditam que deveriam ter deixado para fazer relações internacionais numa pós-graduação.

Primeiro é preciso fazer algumas distinções: existem diversas áreas de atuação dentro das relações internacionais. O principal erro que alguns estudantes fazem é imaginar um trabalho qualquer dentro das relações internacionais e procurar uma faculdade qualquer de relações internacionais. As duas coisas devem estar alinhadas.
Em verdade relações internacionais é uma grande área do saber, que engloba temáticas e atuações das mais diversas. Vai da tradicional diplomacia, passando por trabalhos em organizações internacionais até chegar na parte empresarial. Quando for imaginar o que você quer fazer na área de relações internacionais, tente primeiro imaginar como seria o trabalho ideal para você. Esqueça onde estaria trabalhando e pense no que estaria fazendo. Você pode se imaginar representando o Brasil junto a outro país, analisando tendências políticas de algum lugar do mundo, negociando compra e venda de produtos no mercado internacional, estruturando o lançamento de um produto no mercado mundial, estabelecendo uma estratégia de comunicação entre diversos grupos da sociedade civil para uma ação que ocorra em nível internacional…
Uma vez imaginado o que você quer fazer, o próximo passo é olhar qual o curso de graduação melhor te prepara para fazer o que você imaginou. Mesmo que você tenha pensado em coisas ligadas às relações internacionais, não necessariamente este é o melhor curso para você. Pode ser que seja Direito (com especialização em direito internacional), ou Economia, ou mesmo Contabilidade. Pode ser que seja Ciências Sociais ou Jornalismo. As opções são muitas. Tenha em mente que não é o curso de graduação que vai determinar o que você pode fazer, ele vai ajudar a te qualificar para chegar lá, mas a escolha é sua.
Caso você chegue à conclusão de que efetivamente o curso que você deveria fazer é Relações Internacionais, então você precisará analisar com calma as grades de disciplinas de cada curso. Verá que são muito diferentes. Alguns cursos se focam mais em dimensões políticas, econômicas ou históricas. Existem alguns poucos com concentração em outras dimensões, como o direito e os negócios. É importante que você consiga escolher o curse que mais se adequa à realidade de atuação profissional que você busca.
Muitos alunos escolhem a faculdade que farão baseado em outras questões, como ser ou não paga, ter ou não um nome reconhecido no mercado, ser ou não perto de casa… Veja que são escolhas que em nada se relacionam com o que os alunos querem em termos profissionais. Aí vem grande parte da frustração. É uma loteria, pode até ser que você dê sorte e escolha uma faculdade que oferece exatamente o que você buscava/precisava, mas na maior parte dos casos isso não acontece.
Os alunos começam a aprender um monte de coisas, não entende exatamente para que serve a maior parte do que está aprendendo pois não tinha a cabeça voltada para aquilo. Pode até vir a se interessar pelos temas discutidos, mas terá dificuldades para criar uma ponte entre o que é estudado e o que quer fazer em termos profissionais. Como resultado o aluno tem dificuldade tanto para procurar emprego (já que aprende uma coisa e se depara com outra), quanto para mostrar numa entrevista porque deveria ser contratado, o que tem que o qualifica ao trabalho.
Nisto surge mais um problema: o local onde está instalada a faculdade. O país é grande mas as atividades da grande área das relações internacionais está majoritariamente concentrada nas grandes cidades, especialmente em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro (diria até que nesta ordem). As demais cidades até têm alguma coisa, mas é mais difícil encontrar. Isto é importante considerar por conta dos estágios. Não será fácil encontrar estágios em cidades com menor oferta de vagas de emprego.
Pensando especificamente sobre a busca por emprego, você verá pouca coisa que diga “Relações Internacionais”. O mercado de trabalho ainda está em processo de absorvência deste perfil de profissional. Assim, para aqueles que buscam um trabalho/estágio de relações internacionais, em geral o cenário não é muito positivo. Aqui, o erro está, novamente, em pensar em relações internacionais como algo compacto. Tenha em mente que você terá se formado para desenvolver um conjunto de atividades, que você tem determinadas competências profissionais. O que você deve buscar é qual emprego oferecido demanda tais competências. O cargo não está pronto pronto para as relações internacionais, mas isso não significa que alguns profissionais formados nesta área não consigam trabalhar nela.
O que deve ser feito é localizar uma vaga que tenha o que você pode fazer (seja ela direcionada a um administrador, profissional de marketing, economista, cientista político…). Uma vez localizada, entre em contato com a empresa, diga que eles pedem um profissional X, e que você, mesmo não sendo um profissional X, pode fazer o que é pedido e mais alguma coisa pois tem uma competência na área das relações internacionais que provavelmente o profissional X não tem.
Para fazer relações internacionais e ter uma chance maior de inserção no mercado é preciso pensar diferente, mudar o paradigma. Não se veja como alguém com diploma, mas sim alguém com um conjunto de conhecimentos. Este talvez seja o grande segredo.